Bahia Impressionista - Luz Tropical
Nos idos de dezembro de 1848 Edouard Manet visitou o Rio de Janeiro. Doente, suspeito de malária, proibido de desembarcar permaneceu abordo por uma semana recluso dentro de um navio. Liberado e já em solo brasileiro, Manet diz em suas cartas que aquela luz tropical deixou uma inspiradora marca em sua memória. Décadas mais tarde ele conta a seus amigos que foi diante da vista da Baia de Guanabara, daquela intensa luz refletida pelas montanhas e casas que lhe surgiu uma intuição de arte e uma nova forma de se expressar. Em torno de Manet na segunda metade do séc 19 se reuniram grande parte dos artistas chamados de Impressionistas.
A pintura deste grupo se caracterizava pelas cores puras, sem a mistura tradicional na paleta do pintor que com pequenas pinceladas as dispunham no quadro deixando ao observador "misturá-las sob forma óptica, durante sua contemplação à obra. As figuras não devem ter contornos nítidos, pois a linha é uma abstração do ser humano para representar imagens.
Os impressionistas estudaram incessantemente as tonalidades que os objetos adquirem ao refletir a luz solar num determinado momento, pois as cores da natureza se modificam constantemente, dependendo da incidência da luz do sol. Esta relação objeto-luz é também o maior objeto de estudo do fotógrafo, cujo a origem da palavra - grega - significa aquele que "desenhar com a luz". Os efeitos ópticos descobertos pela pesquisa fotográfica, sobre a composição de cores e a formação de imagens na retina do observador, influenciaram profundamente as técnicas de pintura dos impressionistas. A relação dessas duas formas de expressão foi tamanha que as primeiras reuniões do grupo se davam no estúdio do fotógrafo Nadar.
Não seria diferente a reação de Manet se caso ele tivesse desembarcado na Bahia de Todos os Santos. Diante dessa intensidade de luz tropical, dessas águas plácidas do litoral baiano, e com uso de uma redução mais pontual do foco óptico, é que venho tentando se aproximar, senão ao menos, do prazer de se transportar a uma bela paisagem através do delírio de cores e luzes que a fotografia despeja, como um colírio, aos olhos do observador.
Numa manhã qualquer de sol ao acordar, escolha um lugar ao ar livre que você goste ou tenha uma vista prazerosa e experimente um minuto de reflexão. feche os olhos e mantenha-os fechados por 60 segundos. Aproveite para respirar um pouco o ar matinal. Abra e os mantenha aberto por apenas 5 segundos - feche-os novamente e tente lembrar a imagem que você acaba de ver. A luz intensa que entra abundante pelos olhos dá a sensação de materializar a lembrança da imagem enquadrada no olhar. Essas primeiras impressões do momento, normalmente carregadas de cores e luzes, não traduzem a riqueza de detalhes que nossa memória é capaz de armazenar e posteriormente descrever. É esta imagem colorida, quente e desfocada - a imagem do inconsciente mundo dos sonhos!












